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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A viagem a Útgard: Thor é enganado

      A viagem de Thor a Útgard a qual é descrita neste mito como sendo a capital de Jotunheim é uma das histórias mais curiosas sobre o deus do trovão, pois nessa narrativa, Thor é enganado pelo rei gigante Útgard-Loki. Além disso, nessa história, também conhecemos mais um pouco do temperamento e orgulho do deus. Essa história não consta entre os poemas que formam a Edda poética, contudo na Edda em prosa, Snorri a narrou em detalhes. Irei resumir os acontecimentos aqui, pois tal mito ocupa algumas páginas do livre de Snorri. 
Thor e Loki seguindo viagem a Jotunheim. 
      Não se sabe ao certo os motivos da viagem, mas Thor e Loki estavam viajando por Midgard, até que certo dia próximo de anoitecer, Thor avistou uma fazenda, e lá foi pedir abrigo ao dono do local. Ele e Loki se reuniram a família do fazendeiro o qual possuía um filho chamado Tjálfi e uma filha chamada Röskva. Em algumas versões é dito que os dois irmãos são crianças, e outras eles aparecem como sendo adolescentes. A esposa do fazendeiro serviu o jantar, mas Thor como costumava comer bastante, sacrificou os seus dois cavalos (algumas versões dizem que foram os dois bodes negros), então os pois para assar, contudo, dissera que apenas a carne poderia ser consumida, a pele e os ossos deveriam ficar intactos. 
Contudo, o fazendeiro e Tjálfi quebraram um dos fêmur de uma das pernas. No dia seguinte, usando o seu poder Thor reviveu os dois animais, mas o que havia tido o fêmur partido, renasceu manco. Aquilo irritou o deus e o mesmo ameaçou matar toda a família, mas eles empalecidos de medo diante da face tempestuosa do deus ruivo, começaram a suplicar por misericórdia. O deus aceitou como rendição, que Tjálfi e Röskva fossem lhe entregue, para se tornarem seus servos. O fazendeiro aceitou a oferta.
   A partir desse acontecimento, os quatro seguiram viagem para Jotunheim até que certa noite, em meio a um bosque avistaram o que parecia ser a entrada de um grande palácio, onde lá passaram a noite. No dia seguinte, ouvindo um som alto e estranho, o deus saiu para investigar então encontrou ali perto um enorme gigante dormindo. Ele era bem maior do que o comum e se chamava Skrymir. 
     Os quatro consentiram em seguir viagem ao lado desse gigante e no entardecer, ele voltou a dormir, mas antes de o fazê-lo dissera que eles poderiam comer da comida que ele guardava em sua bolsa. Contudo, o poderoso Thor não conseguiu desatar os laços da bolsa, e isso o irritou ao ponto de atacar Skrymir. Thor por três vezes o golpeou na cabeça, mas nada aconteceu com o gigante. Nas três ocasiões, Skrymir acordou e voltou a dormir, achando que as pancadas fossem folhas ou frutas que havia caído das árvores. Thor ficara perplexo em ver que seus poderes não causavam dano aquele gigante.
Thor prepara-se para disferir uma martelada na cabeça de Skrymir, enquanto Loki, Tjálfi e Röskva assistem a cena. 
      No amanhecer, Skrymir disse que Thor e os demais teriam que ter cuidado quando chegassem a Útgard, pois o rei Útgard-Loki e seu exército eram bastante poderosos.
"Mas se chegardes até Útgard, observareis que homens maiores existem lá. Dar-vos-eis um conselho, porém: não vos comporteis de modo arrogante; os soldados de Útgardi-Loki não tolerarão arrogâncias de insignificantes como vós". (STURLUSON, 1993, p. 106). 
Skrymir os aconselha a desistir de seguir viagem, porém Thor mantém a palavra de continuar a seguir para Útgard, assim Skrymir disse que não iria acompanhá-los, então se despede deles e segue em direção ao norte, pois a cidade de Útgard ficava para leste. Os quatro viajantes continuaram seu caminho e ao meio-dia chegaram diante de uma enorme fortaleza, com portões tão altos que quase se perdia de vista. Thor tentou abrir a gigantesca porta, mas mesmo sua poderosa força não foi capaz de fazê-la, então eles encontraram brechas na porta e por ali adentraram a fortaleza e lá dentro encontraram um grande palácio, ao chegarem numa enorme sala, onde havia vários gigantes sentados em bancos diante de uma longa mesa, eles avistaram em um trono, o rei Útgard-Loki. 
Útgard-Loki observa os quatro visitantes. 
      "Em seguida, chegaram ao rei Útgard-Loki e o saudaram, mas isso ocorreu um pouco antes de que ele os notasse. Ele sorriu sarcasticamente para eles e disse: 'Novidades viajam lentamente através de longas distâncias, ou estarei incorreto ao afirmar que este fedelho seja Ökuthor? Creio que deves ser mais forte do que pareces. Quais habilidades pensam tu e teus companheiros dominar? Não permitimos que alguém que não domine alguma arte ou possua algum conhecimento permaneça entre nós". (STURLUSON, 1993, p. 107).
      Nesse ponto da história notamos que o gigante feriu o orgulho de Thor e também de Loki. O curioso desse mito, é que embora Thor fosse famoso por ser um assassino de gigantes, Utgard-Loki e seus homens não aparentavam medo, e começaram a duvidar se o deus ruivo realmente era forte e teria realizado os feitos que se contavam. Thor indignado com aquela afronta decidiu provar seu valor, assim os gigantes propuseram desafios. Irei resumir o acontecimento.
      O primeiro desafio foi dado a Loki, o qual disse que conseguiria comer mais rápido que qualquer um dos gigantes. Ele iria competir contra o gigante Logi ("Fogo"). Os dois se sentaram nas pontas da mesa e começaram a devorar toda a comida que havia sobre esta, mas no fim Logi conseguiu vencer a competição. 
   O segundo desafio foi proposto a Tjálfi o qual disse que poderia participar de uma corrida, pois era conhecido por ser um exímio velocista. Assim, todos foram para o campo nos arredores da fortaleza, e Tjálfi correria contra o gigante Hugi ("pensamento"). Após três tentativas, Tjálfi perdeu as três para Hugi. 
      Por fim, chegou a vez de Thor. Útgard-Loki propôs três desafios para o trovejantes deus. O primeiro seria beber cerveja em um chifre, o mais depressa possível. O gigante disse que os bons bebedores, o faziam apenas em um trago. O copeiro retornou com um enorme chifre cheio de cerveja e o entregou ao deus o qual se esforçou para beber o mais depressa possível, mas quando notou, praticamente não havia bebido nada. O deus tentou mais duas vezes, mas também não conseguiu esvaziar o corno e nem se quer beber um terço do seu conteúdo. O gigante disse que o pior dos gigantes bebia aquilo em apenas três goles, e o formidável Ásathor não conseguira fazer isso. 
Thor durante a competição de esvaziar o corno com cerveja. 
      O segundo desafio, era erguer o grande gato de Útgard-Loki, o qual ele dizia que os seus homens faziam isso como se fosse brincadeira de criança. Então um grande gato cinza (as vezes ele é retratado como sendo preto), apareceu diante de Thor. Então o deus o segurou pela barriga e fez força para erguê-lo, mas o bichano parecia ser pesado como uma montanha. Depois de algumas tentativas, o deus notou que conseguiu apenas erguer uma das patas do felino. Aquilo o enfureceu.
Thor tentando levantar o gato gigante de Útgardi-Loki. 
      "Útgardi-Loki disse: 'Isso se seguiu como eu suspeitava. O gato é bastante grande, mas Thor é baixo e pequeno comparado a qualquer homem que aqui se encontra'. Thor disse: 'Podes chamar-me de pequeno, mas permita que um dos seus venha a combater comigo, pois agora estou em fúria'". (STURLUSON, 1993, p. 111). 
      Útgard-Loki aceitou a proposta, mas disse que o deus não estava a altura de combater nenhum de seus soldados, e ao invés de designar algum dos guerreiros mais fracos, pois o rei gigante desdenhava da força de Thor, ele designou sua madrasta, a velha Elli para combater em um combate desarmado com o deus do trovão. 
Thor confrontando a giganta Elli.
      Após desferir vários ataques contra a velha giganta, a mesma parecia que não sentia dor com nenhum daqueles golpes. Thor perplexo com aquilo, continuou a atacar com mais força, mas com apenas um tapa da giganta ele caiu no chão desnorteado com o que aconteceu. Útgard-Loki encerrou a luta e considerou que o deus havia sido derrotado. Ao mesmo tempo ele completou dizendo que se o poderoso Thor não conseguia derrotar uma velha, do que dizer confrontar os seus guerreiros. 
     O rei disse que os quatro viajantes poderiam passar a noite em seu palácio, e no dia seguinte eles foram saudados com um farto café da manhã, antes de irem embora. Já fora da fortaleza Útgard-Loki se pôs a contar toda a verdade, tudo o que havia ocorrido era uma farsa, ele havia usado magia para enganá-los. Primeiro ele contou que o gigante Skrymir na realidade era ele sob outra forma. As três pancadas que Thor havia desferido, na realidade foram dadas numa imensa rocha e não na cabeça do gigante. Útgard-Loki apontou para uma pedra que se encontrava destruída após as marteladas.
      O gigante Logi na realidade era o "Fogo", logo, o fogo consome tudo em seu caminho, e seria impossível para Loki derrotá-lo. Isso é curioso pois Loki era considerado o deus do fogo, e como ele poderia perder para o elemento que ele estava atribuído?
      O gigante Hugi, era na realidade o pensamento de Útgard-Loki transfigurado, logo, nada é mais rápido que a velocidade do pensamento (pelo menos na época dessa história assim se acreditava). 
      O corno de cerveja que Thor tentou beber, na realidade não contia cerveja, mas estava ligado ao mar. Daí o deus esforça-se para esvaziá-lo, mas ninguém conseguiria "beber o mar", contudo Thor conseguiu fazer o nível do mar baixar um pouco, algo que surpreendeu Útgard-Loki. O gato gigante na realidade era a Serpente de Midgard, chamada Jormungand, a qual foi transformada naquele felino. A serpente era a maior criatura do mundo, e Thor conseguiu erguer uma parte dela, um feito incomparável.Por fim, a giganta Elli era a "Velhice", logo, nenhum mortal consegue confrontar a velhice a qual é a mensageira da morte, mas Thor conseguiu resistir bastante tempo contra a mesma e se empenhou em derrotá-la. 
      "E quando Thor ouviu esta história, agarrou seu martelo e brandiu-o nos ares; mas, no momento em que estava para desferir o golpe, não mais viu Útgard-Loki. Então, voltou-se para a fortaleza com intenção de destruí-la, e não mais a viu - somente vastas e belas planícies". (STURLUSON, 1993, p. 114).
      Esse mito é interessante pois ele é ambíguo: numa hora, o deus é feito de tolo, mas no fim descobre-se que realmente ele era poderoso como se dizia. Aqui podemos notar que a ideia do mito era mostrar que realmente Thor era poderoso, mas os contadores dessa história se valeram de algum artifício poético, para dá um tom de suspense e cômico a trama, mostrando um deus fraco, mas que na realidade era forte, mas havia sido enganado pelo uso da magia. A magia é uma fato recorrente na mitologia escandinava e na religião destes povos. 

Fonte das ilustrações e texto:
http://seguindopassoshistoria.blogspot.com.br

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